16 abril 2008

Jesca Hoop - KISMET



3 Entertainment/Columbia Records (2007)

1. Summertime 2. Seed Of Wonder 3. Enemy 4. Silverscreen 5. Money 6. Dreams In the Hollow 7. Love Is All We Have 8. Intelligentactile 101 9. Havoc In Heaven 10. Out the Back Door 11. Love And Love Again

Um ano e meio depois dos Klaxons (entretanto elevados a estrelas com direito a passagem cadente por terras lusas), a massa verde e viscosa cedeu lugar, entre outras coisas, ao algodão com toque de serrapilheira chamado Jesca Hoop, moçoila filha de pais mórmons que não podia ver MTV em casa (Jesus a quanto obrigas) e que cantou em coros de Igreja até ao momento em que optou por um período de (sobre)vivência naturalista entre as montanhas do Arizona. Entretanto foi ama dos filhos da família Waits (sim, essa mesmo), situação que terá tido o seu peso na definição do tecido folk/rock construído por Hoop a partir dos mais variados novelos musicais. O disco de estreia, Kismet, é como uma manta de toque suave porém robusta, onde cabem melodias que lembram, à vez, Fiona Apple, Bat for Lashes e Kate Bush, aqui e ali com pequenos toques luminosos à la Lilly Allen. No geral, uma excelente colecção de canções em que sobressai a crueza de Seed of Wonder, o imaginário cabaret de Love and Love Again e o ambiente pagão de Havoc in Heaven.
Só um reparo: o início de Summertime, que soa a cantilena de acampamento escuta, constitui motivo para pressão reflexa no botão stop. Assim, aproveitem o primeiro minuto e picos do cd para irem à casa de banho ou prepararem uma sandocha, e depois aconcheguem-se confortavelmente no sofá com a vossa manta nova...

página oficial - http://www.jescahoop.com/

26 novembro 2006

The Klaxons - XAN VALLEYS EP



Modular (2006)

1. Gravity's Rainbow 2. Atlantis To Interzone 3. Four Horsemen of 2012 4. The Bouncer 5. Gravity's Rainbow (Van She Remix) 6. Atlantis To Interzone (Crystal Castles Remix)

Imaginem uma rave onde o som não faz doer a cabeça, tal a quantidade de marteladas por minuto, e os músicos em cima do palco não se confudem com a maquinaria pesada de uma qualquer fábrica moderna, trocando-a por um sintetizador daqueles de trazer por casa, um baixo e uma guitarra. Ok, isto não será uma rave. Até porque nas raves não se ouvem canções, que é o que os Klaxons andam a cuspir a partir de Londres desde 2005, com tal pujança que já devem ter atingido uma boa quantidade de ouvidos desprevenidos em todo o mundo. No que me diz respeito, já há três ou quatro semanas que me escorre pela cabeça abaixo uma massa viscosa verde, amarela e rosa fluorescente que não consigo limpar de maneira nenhuma. Parece que se chama Xan Valleys e tão depressa me promete amor eterno com coros à TV On The Radio (Gravity's Rainbow), como me barra a entrada (na rave?) porque o meu nome não está na lista (The Bouncer). Pelo meio dispara uns breakbeats alucinados e liga umas sirenes que me põem a ver estrelas - ou serão efeitos do grafismo marado do site? Atenção: no final da massa aparecem duas remisturas que soam a Daft Punk (arrggh!!!) e convém separar rapidamente do núcleo duro, para não causarem danos permanentes. Quanto ao resto, venha mais visco!...

página oficial - http://www.klaxons.net/

25 novembro 2006

The Pipettes - WE ARE THE PIPETTES



Memphis Industries (2006)

1. We Are The Pipettes 2. Pull Shapes 3. Why Did You Stay 4. Dirty Mind 5. It Hurts To See You Dance So Well 6. Judy 7. Winter's Sky 8. Your Kisses Are Wasted On Me 9. Tell Me What You Want 10. Because It's Not Love (But It's Still A Feeling) 11. Sex 12. One Night Stand 13. ABC 14. I Love You

Fãs das Spice Girls e Doce, esta é a vossa oportunidade de chegarem ao próximo nível. Chamem os papás e peçam-lhes as Pipettes para o Natal - são mais giras que as miúdas dos Morangos com Açucar, sabem cantar, usam vestidos às bolinhas e em meia horita despacham 14 bombons capazes de trasportar o mais carrancudo dos progenitores à infância e pô-lo a abanar as ancas até as próteses darem de si.
A ideia foi simples: recriar a pop de finais dos anos 50, quando as girls-bands dominavam o mundo e os Beatles ainda eram quatro jovens que não se conheciam. Um tipo chamado "Monster" Bobby Barry fez de Phil Spector, enfiou 3 miúdas com vozes bonitas nos tais vestidos às bolinhas e entregou os instrumentos a uma série de rapazes, a que chamou The Cassette. O resto são canções que nos relembram os bailes de finalistas dos filmes e nos fazem suspirar pelas velhas rodelas de plástico pretas, a girar sem parar debaixo da agulha (daquelas que não fazem mal).
Ouçam a deliciosa Your Kisses Are Wasted On Me e tentem evitar um sorriso. Quem conseguir diga qualquer coisa, há por aqui prémios para oferecer...

07 maio 2006

The Organ - GRAB THAT GUN













Mint Records (2004)

1. Brother 2. Steven Smith 3. Love, Love, Love 4. Basement Band Song 5. Sinking Hearts 6. A Sudden Death 7. There Is Nothing I Can Do 8. I Am Not Surprised 9. No One Ever Looked So Dead 10. Memorize The City 11. Instrumental (Bonus)

Eu acredito no amor à primeira vista. E acredito que, em ocasiões especiais, esse sentimento possa despontar com tal intensidade que, numa questão de segundos, todo o corpo se arrepie, embalado pelo ritmo descompassado do coração. E foi assim que me apaixonei perdidamente por cinco meninas do Canadá, que bateram à porta dos meus ouvidos e imediatamente forçaram a entrada na minha corrente sanguínea, contagiando de forma irresistível todos os meus órgãos. Como é que eu podia dizer que não áquelas palavras suaves e doces, embaladas numa melancolia imensa de melodias e ritmos perfeitos na sua simplicidade e que atingem em cheio o cérebro? Pois é. Não podia. Por isso desisti, ainda antes de ter tentado resistir, e entreguei o meu coração às cinco meninas, feliz na certeza de ter encontrado um Amor verdadeiro, de que nunca me vou cansar.

página oficial - http://www.theorgan.ca/

White Rose Movement - KICK



Independiente (2006)

1. Kick 2. Girls In The Back 3. Love Is A Number 4. Alsatian 5. London's Mine 6. Pig Heil Jam 7. Idiot Drugs 8. Deborah Carne 9. Testcard Girl 10. Speed 11. Cruella

A maior alegria que tive este ano, para além da estreia da Floribella na TVI, foi quando soube que os White Rose Movement vinham a Paredes de Coura. Faço desde já (mais) uma vénia aos tipos que escolhem o alinhamento do festival, pelo simples facto de todos os anos incluírem no cartaz a(s) minha(s) banda(s) preferida(s) do momento - Arcade Fire em 2005 e White Rose Movement (WRM) no ano da graça que vai agora a meio.
Seguindo a linha revivalista 80's explorada por bandas como os The Bravery, os WRM pegam na electro-wave "clássica" ("Girls in The Back" e "Love is a Number") mas dão-lhe um enxerto de porrada com soqueiras góticas e industriais, até lhe deixarem a cara feita num híbrido goth-hard-wave (fui eu que inventei esta) que soa a Depeche Mode no headphone esquerdo ("Deborah Carne"), a Nine Inch Nails no headphone direito ("Pig Hail Jam") e a uma cena marada quando se ouvem os dois headphones ao mesmo tempo ("Kick").
O certo é que o híbrido consegue encaixar a tareia melhor do que o Rocky dos velhos tempos e tem energia para dar e vender durante os 51.32 min de KICK, o disco de estreia dos 4 londrinos e 1 londrina que foram buscar o nome a um movimento criado por um grupo de jovens alemães que teve a coragem de, em pleno regime nazi, lutar contra a ideologia repressiva e fascista de Hitler. E é precisamente esse sentimento, misto de urgência, vitalidade e paixão, que os WRM conseguem imprimir à sua música, tornando-a tão irresistível e apelativa. Quem quer ir comigo distribuir panfletos para a rua e espalhar a palavra?

12 fevereiro 2006

Editors - THE BACK ROOM

Editors-The Back Room

Kitchenware (2005)

1. Lights 2. Munich 3. Blood 4. Fall 5. All Sparks 6. Camera 7. Fingers In The Factories 8. Bullets 9. Someone Says 10. Open Your Arms 11. Distance Bonus CD (Limited Edition) 1. Let Your Good Heart Lead You Home 2. You Are Fading 3. Crawl Down The Wall 4. Colours 5. Release 6. Forest Fire

Numa altura em que há mais bandas novas do que modelos de telemóveis e a maior parte dos sons que vagueiam pelas ondas hertzianas se (con)fundem numa amálgama compacta e baça, as músicas que se destacam no meio do ruído tornam-se pedras preciosas que apetece, primeiro, guardar e só depois dividir pela maior quantidade de pessoas que for possível.
Assim me aconteceu a primeira vez que ouvi "Munich" na rádio (quem diz que em Portugal as rádios não passam boa música tem que actualizar as frequências...), o single que na altura brilhava com mais intensidade de entre as perólas de The Back Room, o primeiro longa-duração dos Editors. Mas quem gosta de jóias vai ficar deliciado com a variedade e quantidade encerrada naquele baú em forma de CD: há diamantes em "Lights", "Blood" e "Bullets", poderosas e de arestas bem definidas; esmeraldas de brilho vivo, denso e etéreo em "Fall", "Camera", "Open Your Arms" e "Distance"; e objectos de prata e ouro em "All Sparks", "Fingers in the Factories" e "Someone Says", que lançam no céu reflexos dourados e cinzentos.
Quem tiver sorte e procurar bem, ainda pode encontrar no fundo deste baú um alçapão que esconde mais seis pedras preciosas, dentro de um cd bónus que, apesar de ser mais pequeno que a arca maior, contém a jóia mais reluzente de todo o espólio, "Colours", embrulhada em suaves panos de seda, sonho e melancolia. "You are the colour, my dear", canta Tom Smith, enquanto embala nos braços a sua paixão. E eu só posso concordar.

18 maio 2005

Interpol - ANTICS

Interpol-Antics

Matador Records (2004)

1. Next Exit 2. Evil 3. Narc 4. Take You on a Cruise 5. Slow Hands 6. Not Even Jail 7. Public Pervert 8. C'mere 9. Length of Love 10. Time to Be So Small

"New York, New York", cantava Sinatra no final dos 70's em jeito de homenagem à grande metropole americana. Depois vieram os anos 80, carregados de deslumbramento e desilusão, romantismo e sofrimento, a busca pelo sentido da vida num mundo desolado e desolador onde a felicidade se escapa sistematicamente por entre os dedos. Assim são os Interpol: românticos, sonhadores, emotivos, apaixonados. Negros, mas ainda assim, luminosos. É verdade que já não estamos nos anos 80, mas isso pouco importa. Depois de Turn On The Bright Lights, os nova iorquinos partilham conosco mais uma mão-cheia de poemas em forma de canções, grandes canções que podiam ser Cure, Joy Division, Bauhaus ou Echo and the Bunnymen. Sinta-se a força arrebatadora de "Evil" e "Slow Hands", duas das melhores canções rock dos últimos anos que dão sentido á tecla repeat do leitor de cd's, o baixo pulsante e a guitarra urgente a empurrarem a voz de Paul Banks em direcção ao céu; o ritmo angular de "NARC" a marcar a cadência do coração numa noite sem fim; os jogos de luz e sombra em "Take You on a Cruise"; a procura desesperada de algo melhor, algo maior, a luz perdida em "Public Pervet" e "C'mere". Há quem os ache frios e cínicos, outros uma cópia de coisas melhores. A primeira vez que ouvi Antics na Fnac lembro-me de pensar isso mesmo: música fria e sem alma. Às vezes não reconhecemos as coisas boas mesmo quando batemos nelas. E a luz continua o seu caminho, à procura de quem se queira aquecer...

página oficial - http://www.interpolnyc.com/